Quem passou a vida mastigando o freio Aceitando arreios sem se rebelar O suor no rosto, poeira no olhar Sempre a camperear em potreiro alheio Quem cruzou por léguas no mesmo lugar No diário andejar por minguados cobres Esperança escassa que um dia lhe sobre Um ranchito pobre de seu pra morar O homem Caseiro da estância onde me criei Meu pequeno mundo nunca foi maior O galpão, a lida, o gado e o campo Repontando os anos nesse Sol a Sol A mulher E enquanto eu limpo a casa dos patrões Que moram faz tempo lá na capital Vou criando os filhos para serem peões Pra aceitarem marca, levarem buçal Quem viu tanta gente rumar pra cidade E deixar saudade na dor das taperas Plantar ilusões, semear quimeras Levantar favelas no gris da paisagem Não lamenta a sina de gado de corte Aceita a sua sorte, cumpre a dura lida Mas talvez perceba na hora da ida Que passou a vida esperando a morte