O puxador de carroça segue em frente, rasgando o asfalto quente Bem paciente, vaga pela cidade Atrás da sobrevivência, em meio à violência Mantendo a crença, dignidade Mais de 100 anos, devastação A humanidade planta em solo enfermo e colhe tentação A cada esquina o que comer A cada madrugada um novo mundo a se erguer E como um anjo que traz consigo as chagas de todo trabalhador O puxador de carroça Como um demônio que corre atrás de graças em meio a tanta dor O puxador de carroça O puxador de carroça no batente, recolhe o lixo dessa gente Que infelizmente degrada a realidade Um animal sem ambiente, que reciclou a mente Questão de escolha, necessidade A natureza quer vencer Mas a matéria que consome a nossa alma é o que nos faz ceder A cada dia uma missão A cada novo passo o despertar da reação E como um anjo que traz consigo as chagas de todo trabalhador O puxador de carroça Como um demônio que corre atrás de graças em meio a tanta dor O puxador de carroça Sintam o peso todo que arde No lombo a indiferença o que transpira é a vontade Excluídos, são filhos da miséria Sol quente na cabeça e fumaça nas artérias Fuça, fuça instinto vira-lata Dos restos que alimenta a história ingrata E vão chutando as pedras Descalços, subindo a ladeira Nas trilhas seguem firmes Sem perder as estribeiras E pra quem carrega o fardo Imposto nas calçadas É bom andar com fé Pra não faiá com a batucada Lata e papelão São colhidos do chão A arte que transforma O mundo em plena mutação Na vida errar Muita bagagem e sonhos pra contar Encaram o horizonte violado dessa longa estrada Tocando em frente a dura caminhada Como um anjo que traz consigo as chagas do povo Como um povo que corre atrás das graças dos anjos Como um demônio que traz consigo as chagas de trabalhador O puxador de carroça