Vou andando por ai Sobrevivendo á bebedeira e ao comprimido Vou dizendo sim á engrenagem E ando muito deprimido É dificil encontrar quem o não esteja Quando o sistema nos consome e aleija Trincamos sempre o caroço Mas já não saboreamos a cereja Já houve tempos em que eu Tinha tudo não tendo quase nada Quando dormia ao relento Ouvindo o vento beijar a geada Fazia o meu manjar com pão e uva Fazia o meu caminho ao sol ou á chuva Ao encontro da mão miúda Que me assentava como uma luva Se ainda me queres vender Se ainda me queres negociar Isso já pouco me interessa Perdemos o gosto de viver Eu a obedecer e tu a mandar Os dois na mesma triste peça Os dois á espera do fim Tu tens furtuna e eu não Podes comer salmão e eu só peixe miúdo Mas temos em comum o facto de ambos vermos A vida por um canudo Invertemos a ordem dos factores Pusemos números á frente de amores E vemos sempre a preto e branco o programa Que afinal é a cores