Um lagarto cinzento passeia no teto Uma lâmpada acesa repleta de insetos Ouço o uivo do cão, longe, que choraminga Ouço o som da torneira insistente que pinga 'Tic-tac', o ponteiro sem pressa me irrita Assim como a sirene apressada que grita Ouço o chato do grilo estridente que canta Não pior que o bebum esfolando a garganta Vejo alguém na TV que já vi não sei onde Tenho sede, mas lembro que a água está longe E de repente me vem à cabeça O resto de pizza, frio, na mesa O refrigerante sem gás Na pia já não cabe mais O espaço vazio que tem na gaveta Essa voz do sujeito da tela incomoda Alcançar o controle é uma idéia remota Já estou quase alcançando, é melhor não dar mole É melhor controlar antes que me controle Olho a vida de canto, fingindo não ver Tudo bem, eu não ligo, eu não vou me mexer As contas por pagar, a barba por fazer O passo arrasta o pó da casa por varrer Troco à esmo, de novo, os mesmos canais Ou a pilha acabou ou são todos iguais E de repente a pálpebra pesa Escovo os dentes com pasta e com pressa A reza que o sono desfaz No lixo em meu sonho já não cabe mais O espaço vazio que freezer conserva Eu não vou me mexer, eu não vou me mexer