Aproximam-se os sacerdotes A fragrância em seus turíbulos exala o sono eterno Conduzem castiçais de prata Ensanguentados em remoto sacrilégio Com os pés descalços, a plebe exalta o meu martírio Guiada pela lâmina áspera da voz de seu mestre O silêncio ecoa Mas eis que, súbito, ouço a mais bela voz É o som de minha alma que coordena agora o meu corpo e raciocínio Platônico, brado aos meus inquisidores Ó vós que sois o impulso para a mão seca do carrasco! Calai-vos ante meu último suspiro Se é que ainda possuis compaixão nesse carvão que levam ao peito! Torturam-me a caminho da pira mortal, almejando incinerar minha ira Pobres criaturas, pois sois os tolos que atraiçoam o próprio ideal! Vós reverenciais cruzes a quem um dia ousaram condenar! Certa vez, um homem ensinou-vos a revolução interior Ensinou-vos a praticar o amor e a misericórdia Tudo o que conseguiu de vós foi a idolatria! Atraiçoado, atirou-se ao Calvário por vossa tolice E agora vós erigis os punhos para atear-me fogo? Eis que com orgulho entrego-me a vosso sacro julgamento Mas não esqueceis! Vós carbonizais minha carne Contudo libertais meu espírito à plenitude cósmica!