Amanhece mais um dia e a cidade renasce Com o vai e vem frenético das pessoas apressadas Na presença esquálida dos mendigos esfomeados Esquecidos nas calçadas E as crianças invisíveis, abandonadas nos sinais de trânsito Que você finge não ver e você finge não ver E amanhece mais um dia, um dia igual a todo dia De sol ou chuva, brisa ou ventania Riqueza e fome, verdades e hipocrisias, riso e dor Realidades desiguais, cruéis E lá além desse quintal, desse falso idealismo hipócrita a guerra mata, a fome mata, as drogas matam... e a gente finge não ver Pois é mais fácil ignorar do que fazer alguma coisa Que seja olhar além do próprio umbigo É bem mais fácil acreditar que é um cidadão exemplar Que está contribuindo, fazendo sua parte, indo à igreja aos domingos rezar Ir à igreja e rezar, e à sua alma lavar Anoitece mais um dia e a cidade adormece Com o brilho dos faróis dos automóveis apressados E furor da libido das prostitutas semi nuas Nas esquinas da cidade crua E as famílias que mal dormem, ultrajadas debaixo das pontes Que a gente finge não ver, a gente finge não ver E o que faz um cidadão comum, não ser apelar para o bom senso da política E esperar que amanheça um novo dia, uma nova consciência E ter fé que as pessoas acreditem que juntas podem mudar o mundo