Luiz Tristão

Cabeças-Quadradas

Luiz Tristão


Aqui na cidade da garoa
A chuva quando chega, chega pra molhar
Milhares de civis vivendo à toa
Querendo achar motivo para vadiar

Quanto tempo faz que alguém saiu às ruas
Em busca de algo novo para revolucionar
E quanto tempo faz que o rio virou espuma
Tirando das crianças a piscina pra nadar

Mas vai saber o que se passa nessas cabeças quadradas

No coração da floresta de concreto
Jovens e velhos se envenenam para anestesiar
O sentimento de conformidade que ataca um a um
Não respeita nem idade nem lugar

De onde é que vem o grito de socorro
Que ecoa pelos becos num instante até cessar
E de onde é que vem toda essa compostura
Indecente a quem pressente tudo que ainda virá

Mas vai saber o que se passa nessas cabeças quadradas

Antes de abrir seu guarda-chuva
Olhe pra cima e repare na beleza do trovão
Que corta o céu e ilumina as ruas
Sempre tão escuras, se revelam no instante do clarão

Como é que faz pra se dormir direito
Se a guerra é incessante entre polícia e ladrão
Me diz como é que faz então senhor prefeito
Se tem gente dormindo até na boca do lixão

Mas vai saber o que se passa nessas cabeças quadradas