Há muito tempo não vejo um carro de boi Nem o carreiro, nem poeira de boiada Até o rancho de sapé foi demolido Onde o caboclo vivia com sua amada Só os destroços da porteira encontrei Isso não passa de uma dor que me consome O que um dia foi chamado de sertão Hoje só resta simplesmente o seu nome Vai progresso Deixa a saudade nesse pobre coração Vai progresso Não vejo mais o que existia no sertão Deito na rede e fico pensando a vida Me dá tristeza e vontade de chorar Vejo o asfalto que cobre o estradão Jamais eu vejo uma boiada ali passar Não ouço mais o repique de berrante Nem os peões que outrora conheci De onde veio isso que chama progresso Com esse golpe francamente eu senti Vai progresso Deixa a saudade nesse pobre coração Vai progresso Não vejo mais o que existia no sertão Hoje não tenho forças para trabalhar E nem um filho que possa cuidar de mim Os meus cabelos branquearam com o tempo Estou prevendo brevemente o meu fim Nada me resta a não ser essa lembrança Como uma folha vou tocado pelo vento E a herança são as rugas do meu rosto Que o passado me deixou em fragmento Vai progresso Deixa a saudade nesse pobre coração Vai progresso Não vejo mais o que existia no sertão