O pelo do meu cavalo É a barra anunciando o dia E se ninguém me anuncia Assim mesmo, eu vou cantá-lo O pelo do meu cavalo tem a cor da trança nova A cor da graxa que sova as cordas de couro bruto É como a ponta do junco, queimado ao Sol veraneio Cor da marcela do campo, do brisco do pirilampo Olho de gato palheiro O pelo do meu cavalo é um cerne de aroeira mansa Labaredeando uma dança, de lume n'algum galpão Pelo da estrela do chão, pelo da estrada do céu Ouro do cálice bento que curvou a linha do tempo No altar-mor de São Miguel O pelo do meu cavalo tem raia negra nas patas É a tatuagem que retrata sua secular existência Nem bem havia querência e com mil patas raiadas Bandearam as três fronteiras, empurrando mula cargueira Nos rumos de Sorocaba O pelo do meu cavalo é gateado, meus senhores Dos índios, dos campeadores, dos peões, do pobrerio Pelo da areio do rio, pelo pra lida e pra guerra E eu, muito embora um peão pobre, monto um cavalo tão nobre Que tem o pelo da terra