A flor dos meus sonhos é moça e bonita Qual flor entreaberta do dia ao raiar Mas onde ela mora que casa ela habita - Não quero, não posso, não devo contar Seu rosto é formoso, seu tipo elegante Os lábios de rosa, a fala é de mel as tranças compridas nos ombros quedantes Leveza de fada, - cintura de anel Os olhos rasgados são cor das safiras Serenos e puros azuis como o mar Se falam sinceros, se pregam mentira - Não quero, não posso, não devo contar Eu ontem no baile com ela valsando Senti as delicias dos anjos do céu Na dança ligeira, qual silfo voando Caiu-lhe do rosto seu cândido véu Que noite,que baile, seu hálito virgem Queimava-me as faces no louco valsar As falas sentidas que os olhos falavam - Não quero, não posso, não devo contar Depois, indolente firmou-se em meu braço Fugimos das salas, do mundo talvez Inda era mais bela, rendida ao cansaço Morrendo de amores em tal languidez S o l o Que noite, que festa, que lânguido rosto Banhado ao reflexo do brando luar A neve do colo e as ondas dos seios - Não quero, não posso, não devo contar A noite é sublime, tem longos queixumes Mistérios profundos que eu mesmo não sei Do mar os gemidos, do prado os perfumes De amor me mataram, de amor suspirei Agora vos juro..palavra!, -não minto! Ouvi a formosa, também suspirar Os doces suspiros que os ecos ouviram - Não quero, não posso, não devo contar Então nesse instante nas aguas do rio Passava uma barca e o bom remador Cantava na flauta: - "nas noites d'estio O céu tem estrelas e o mar tem amor" E a voz maviosa do bom gandoleiro Repete cantando,- viver é amar Se os peitos respondem 'a voz do barqueiro - Não quero, não posso, não devo contar Trememos de medo, a boca emudece mais sentem-se os pulos do meu coração Seu seio nevado de amor se entumesce Os lábios se tocam no ardor da paixão Mas vejo que vós, meus senhores ouvintes Com a fina malícia quereis me enganar Aqui faço ponto, segredos de amores - Não quero, não posso, não devo contar Não quero, não posso, não devo contar Não quero, não posso, não devo contar