Foi por culpa dos teus olhos Que o pintor da natureza Enciumado co’a beleza Verdejou o campo em flor Dando brilho aos vagalumes Na luz que alumbra caminhos No rastro que os teus carinhos Deram razões pra um cantor Foi por culpa dos teus lábios Adoçados de pitanga Que a Lua beijou a sanga E levou no seu remanso Uma flor do teu cabelo Desprendida com o abraço Singrando mansa até o passo Adornada de encanto Inda te encontro em meus sonhos Povoando minhas quimeras Espantando as mazelas Deixadas dentro de mim Inda lembro teu sorriso Inda sinto teu abraço Inda guardo lá do passo A florzita de jasmim E a Lua sem teus beijos Nunca mais beijou a sanga E o doce das pitangas Azedaram de amargura Nunca mais a primavera Desabrochou os ipês Que floriam ao te ver Consentindo tua ternura Tua ausência se fez dor Enlutando minha guitarra Desde lá inté a cigarra Se fez muda por desgosto Não vi mais o beija flor Que vinha roubar em beijos O açúcar dos desejos Que sem ti perdeu o gosto Até mesmo o João-de-barro Com o seu canto estridente De costas para o poente Ergueu um rancho pra ela Pra acasalar a pureza De um sentimento bonito Entre os galhos de um angico Que secou na tua espera E nas asas das rapinas Que buscam o sul no verão Alçou voo o coração E partiu sem dar adeus Pra pousar em outro ninho Numa nuvem veraneira Ou ser brilho da boieira Como candeeiro de Deus