Lourenço e Lourival

Recanto de Beleza

Lourenço e Lourival


Velha palhoça
Lugar onde eu nasci
É bem distante daqui
Na entranha do sertão

Com as paredes
Toda feita em pau a pique
Também tinha um alambique
E forno pra fazer pão

Lugar bonito
Onde todas as manhãs
Se ouvia a acauã
Lá no alto do espigão

Lá também tinha
Bem na cerca de arame
Tinha abelha e um enxame
Alojada no mourão

Que na florada
Do ingá e laranja lima
Sugava matéria prima
Pra fazer mel no verão

E da janela
Eu ficava observando
Vendo elas trabalhando
Em sua polinização

Hoje só resta
A bendita da saudade
Da minha felicidade
Onde tudo era prazer

Lembro a escolinha
Feita de alvenaria
Onde eu ia todo dia
À procura do saber

Sempre levando
Flores lindas amarelas
Eu colhia com cautela
No frondoso pé do ipê

Que o meu pai
Plantou com tanto carinho
Bem na curva do caminho
Que vi sempre florescer

Aquilo tudo
Era um mundo de magia
Eu só tinha alegria
Que jamais vou esquecer

Tudo pra mim
Na inocência de criança
Tinha cor de esperança
Que passou sem perceber

Faz trinta anos
Que deixei meu paraíso
Porque não tinha juízo
Para morar na cidade

E quando lembro
Da pureza e da fartura
Me dá uma amargura
E choro sem piedade

Estou formado
E sou grande empresário
Mas o meu grande fadário
É viver com a saudade

Porque aqui
Tenho tudo do progresso
Mas eu não tenho acesso
Um segundo à liberdade

E na cidade
Nesta selva de cimento
Eu morro a cada momento
De angústia e ansiedade

Sei que é tarde
Para voltar pro sertão
Assim vivo na ilusão
Que tenho felicidade