Velha palhoça Lugar onde eu nasci É bem distante daqui Na entranha do sertão Com as paredes Toda feita em pau a pique Também tinha um alambique E forno pra fazer pão Lugar bonito Onde todas as manhãs Se ouvia a acauã Lá no alto do espigão Lá também tinha Bem na cerca de arame Tinha abelha e um enxame Alojada no mourão Que na florada Do ingá e laranja lima Sugava matéria prima Pra fazer mel no verão E da janela Eu ficava observando Vendo elas trabalhando Em sua polinização Hoje só resta A bendita da saudade Da minha felicidade Onde tudo era prazer Lembro a escolinha Feita de alvenaria Onde eu ia todo dia À procura do saber Sempre levando Flores lindas amarelas Eu colhia com cautela No frondoso pé do ipê Que o meu pai Plantou com tanto carinho Bem na curva do caminho Que vi sempre florescer Aquilo tudo Era um mundo de magia Eu só tinha alegria Que jamais vou esquecer Tudo pra mim Na inocência de criança Tinha cor de esperança Que passou sem perceber Faz trinta anos Que deixei meu paraíso Porque não tinha juízo Para morar na cidade E quando lembro Da pureza e da fartura Me dá uma amargura E choro sem piedade Estou formado E sou grande empresário Mas o meu grande fadário É viver com a saudade Porque aqui Tenho tudo do progresso Mas eu não tenho acesso Um segundo à liberdade E na cidade Nesta selva de cimento Eu morro a cada momento De angústia e ansiedade Sei que é tarde Para voltar pro sertão Assim vivo na ilusão Que tenho felicidade