Venho cruzando os caminhos De um fim de tarde cinzento Buscando por entre o verde Distraio o pensamento Meu coração milongueiro Pulsa no mesmo compasso Que o viço do baio oveiro Imprime junto dos cascos Até parece que o pingo Percebe quando estradeio E pede um dedo de prosa Pelas milongas do freio Será que leu os meus olhos Matando a sede de rio Ou meu silêncio lhe disse O que a voz não conseguiu Quem vê milongas terrunhas Nas cantilenas de campo Tem sempre algum refúgio Pra enganar o desencanto Pois, descobri na tristeza Que ronda um taura a cavalo Que até o silêncio é milonga Pra quem quiser escutá-lo O milonguear do pampeiro Redobra o canto da espora Que orquestra do dia inteiro Pra me escutar noite afora Quem sabe cantam pra mim Pra adornar o que penso E saberão alma adentro A paz, a paz que está no silêncio Uma garoa teimosa Perdura no meu chapéu Cumprindo o ciclo das águas Teima em voltar ao céu Trazendo um verso de campo E neles a imagem delas Pondo os sonhos de retorno De um milonguear da cancela