Lidia Ribeiro

Foi Deus

Lidia Ribeiro


Não sei, não sabe ninguém 
Porque canto o fado, neste tom magoado 
De dor e de pranto . . . 
E neste tormento, todo o sofrimento 
Eu sinto que a alma cá dentro se acalma 
Nos versos que canto
Foi Deus,  que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar  
Foi Deus, que me pôs no peito 
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar 

E pôs estrelas no céu
E fez o espaço sem fim
Deu o luto às andorinhas
Ai, e deu-me esta voz a mim

Se canto, não sei o que canto 
Misto de ventura, saudade, ternura e talvez amor 
Mas sei que cantando 
Sinto o mesmo quando, se tem um desgosto 
E o pranto no rosto nos deixa melhor 

Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz ao firmamento e deu o azul às ondas do mar
Foi Deus, que me pôs no peito 
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar 

Fez o poeta o rouxinol 
Pôs no campo o alecrim 
Deu as flores à primavera, ai 
E deu-me esta voz a mim