Leonia Oliveira

Vendaval

Leonia Oliveira


Cavalgado Cabelun
Subia a serra,
Trazia no lombo um
Passo de guerra.
E a cidade ficava lá,
Dois metros depois do Deus dará.
Protegida das torres da igreja
Que zombavam de Cabelun
Por seu despudor,
Invadir a cidade de cereja
Um herege, um algum
Servo do tentador.
E veio o vento que veio,
Calar a boca do sino,
Meteu o pé no esteio
Desconjurou menina e menino.
Deixou a cidade de perna pra cima,
Campeando a saia a lhe sair do ventre.
Cabelun roçou a vida,
Fez chacina comeu os olhos
De azul descrente.
E foram homens rodando,
Azulejos, supositórios, despostórios,
Leis, legisladores e maravilhas
Eletrônicas roubadas.
Só ficou a torre de cimento
A proteger os desditos,
Cumprindo o juramento que fez c'o Santo Bendito
Umas rimas e poemas loucos,
Se espalharam ao vento,
Gritando que era pouco
Deixassem o mundo ao relento.
Estrebuchando Cabelun
Fugiu de vista,
Deixando cheiro de algum
Sonho egoísta,
Arrotou bravatas nas gravatas,
Nos escritórios modernos,
Arrastou dinheiro dos bueiros
Em casas de ternos.
Somente a torre esquecida,
Na cidade qualquer do mundo,
Lambia o sangue das feridas
Com seu suspiro profundo!