Natalino nasceu como nascem milhões de piás Em um rancho coberto de palha com nome de santa fé Recebendo beijos suado do pai Plantador de um pedaço de chão do patrão Cujos cobres das sobras não cabem nos calos das mãos Natalino cresceu como crescem milhões de piás Esperando o Natal pra ganhar um presente do céu E ao ganhar a razão guardou seus sapatinhos E entendeu que a miséria do mundo é maior que o carinho E as primeiras letras que ele aprendeu Cheio de esperança para o céu escreveu Já que Deus criou estes campos sem dono Que desse ao pai um pequeno pedaço Pra que colhesse os frutos da vida A valorizar o suor e o cansaço Dobrou o bilhete da sua esperança E pôs na janela seu sonho criança Rezou e dormiu pois era Natal Sonhou com fartura, brincou de patrão Usou roupa nova que o sonho lhe deu Viu duas cacimbas nos olhos do pai Que afinal ganhara um canto seu Ma sno outro dia o sonho acabou E estava o bilhete como ele deixou Então natalino humano, menino Em sua inocência se pôs a pensar Pra que os ricos cresçam precisam os pobres E meu pai não o direito dos nobres Talvez jamais tenha um lugar pra plantar Natalino chorou como choram milhões de pias