Hoje Só hoje Escute A minha serenata Serena, ingrata Solene como a faca Que corta meu peito Que come a minha cara De um jeito sara Toda dor que há muito se fez Escute só dessa vez Pra depois de enlouquecer Voltar tudo, voltar a seu real Então sigamos afinal Num dia No Alto da Mooca, em uma igreja No pátio do Oratório se fez a nossa deixa Perdidos na esfera, passada nossa espera Comício de pernas dançavam pela peça E você Visão que é tão boa de ter Seus olhos ecoaram nos meus Me fazendo parar e viver Pela primeira vez Mas hoje Só hoje Escute A minha doce e ingrata Cantata, que canto pra ontem na hora errada Espero que as palavras te sigam em disparada Num tempo reverso e que acabem encontrando você Num passado, na Lucidez Ou num lapso de razão a nos ter E te digam o que eu não pude dizer Então, apenas digo que Hoje Só hoje Escute A minha serenata E sinta o laço Nossa linha emaranhada Só hoje, escute Antes que se desfaça Me abraça, no orvalho da manhã que lhe virá Mas logo irá passar, a não ser que o meu dizer Crie uma fenda temporal Na qual a gente possa viver Continuando a se amar e se ter E em uma outra realidade eu irei Acordar e te ver outra vez Mas nesta aqui eu sigo só Caminhando Me lembrando Pela praça, pela mata Pela pedra, pela sala Pela noite em plena calma Pela vida severina Pelo silêncio atrás da retina Vou lembrando, vou lembrando Até que o batuque entregue essa linha E que a Noite Que Sempre Vem Nos leve mais essa canção A algum passado onde houve uma solução