O vento caminhador Cantava porque era vento Mas faltava o sentimento Que vem do mundo interior E ouvindo coplas de amor, Desde a mais xucra à mais doce, Porque era vento, adonou-se Do canto do payador. A terra que me pariu Do ventre da geografia Com certeza não sabia Qual ia ser meu feitio Se era campo, se era rio, Berro, trovão ou relincho, Ou candeeiro de bochincho Queimando só no pavio. Decerto a velha parteira, Quando me banhou, piazinho Ia assoviando baixinho Uma milonga campeira Ou quem sabe a mamadeira, Depois que deixei o seio, Era apojo de rodeio De alguma tigra tambeira. Daí talvez, esta ânsia Daí talvez, este entono De não ter dona nem dono E me agrandar na distância; Talvez daí a circunstância Dos meus instintos selvagens De andar rastreando mensagens Que se extraviaram na infância. Sempre existe algum refugo Por buena que a tropa seja, Vaqueano de sina andeja Jamais me tornei verdugo Não me vendo, não me alugo, Pra mim o mundo é pequeno E as lágrimas de sereno Que a noite chora... eu enxugo. Depois de enxugar o pranto De tantas noites serenas, Foram ficando terrenas As deusas do meu encanto Por isso, quando levanto Meus versos ao firmamento, Não sou mais que a voz do vento Que se adonou do meu canto.