Nasci para ser ignorante Mas os parentes teimaram (E dali não arrancaram) Em fazer de mim estudante Que remédio? Obedeci Há já três lustros que estudo Aprender, aprendi tudo Mas tudo desaprendi Perdi o nome às Estrelas Aos nossos rios e aos de fora Confundo fauna com flora Atrapalham-me as parcelas Mas passo dias inteiros A ver um rio passar Com aves e ondas do Mar Tenho amores verdadeiros Rebrilha sempre uma Estrela Por sobre o meu parapeito Pois não sou eu que me deito Sem ter falado com ela Conheço mais de mil flores Elas conhecem-me a mim Só não sei como em latim As crismaram os doutores No entanto sou promovido Mal haja lugar aberto A mestre: Julgam-me esperto Inteligente e sabido O pior é se um director Espreita p'la fechadura Lá se vai licenciatura Se ouve as lições do doutor Lá se vai o ordenado De tuta-e-meia por mês Lá fico eu de uma vez Um Poeta desempregado Se me não lograr o fado Porém, com tais directores E de rios, aves e flores Somente for vigiado Enquanto as aulas correrem Não sentirei calafrios Que flores, aves e rios Ignorante é que me querem