Leila Pinheiro

Madeira de Sangue

Leila Pinheiro


Tem cigarra nova no oco, 
pica-pau dá troco no toco... 
Todo esse povinho
vai ficar sem ninho
se a matança continuar.
Ah, Tupã, protege a caoba ! 
Pena Branca o maogani ! 
Deus salve a floresta 
e_ o acajú que resta, 
a araputanga taguá. 
Se há cabra safado é guru 
que ao se ver diante de um fato
faz mais glu-glu-glu 
que peru-de-roda
e encobre o assassinato. 
Figurão de araque, banzai! 
Eu assopro em cima e tu cai.
Não vem com cascata : 
eu sou vira-lata,
o anonimato é meu pai.
Cuspo em quem tem rei na barriga, 
morei no sereno, vivo ao léu. 
Eu não procuro quem me siga, 
meu bloco sou eu e o povaréu. 
Lá no Pará é que eu nasci, 
eu sou de mogno e de luz.
E quando ferem minha arvre, 
meu sangue é que escorre pela Cruz.
Eu vou rezar em Nazaré
e crio caso, grito, insisto : 
torturar madeira santa 
é que nem tacar fogo em Jesus Cristo. 
no fuá , no forró , sou mais eu , sou maió.