Ei meu, é hora de acordar Levanta Bartiômeu! Vamo lá, vamo lá! Que vamo lá que nada, deixa eu dormir Vaza, moleque! Saí daqui, saí daqui! Qualé nego véi, a cabeçada que vem É gente pra dar com pau indo pra Jerusalém Tô duro, tô bolado, desde de ontem sem comer Então fica ligado que é hora do vamo vê Prepara o boné, vem que vem no talento Vê se não da mole e aproveita o momento Pronto levantei, qual que foi? Tô de pé Vou sentar aqui na calçada só pra ver qual que é Sei que tu tá na pindaíba, sem bagaceira Mas no meio do deserto da Judéia é doideira É cada um por si, se defende como pode Nós aqui, logo ali, o burguês do Herodes Dentro do seu castelo, vários, vários camelo Várias mina, várias peça, cheio do dinheiro No Palácio da Injustiça, fortaleza de inverno Ele tira onda lá dentro e nóis aqui no inferno O sol quente do dia, o vento frio da noite Só eu e minha capa porque a vida é açoite A poeira, o desprezo, a miséria, a garoa A solidão que maltrata toda e qualquer pessoa Acostumado a identificar os ruídos de quem ia Pras viagens, as caravana que subia e descia Mas um dia ouvi um barulho diferente Perguntei pro dimenor “Dónde vem essa gente” Quando ouvi o seu nome meu coração se encheu de fé Era o profeta prometido vindo de Nazaré (de Nazaré) Jesus, Filho do Rei Davi Olha pra mim, toca em mim Tem compaixão de mim, tem compaixão de mim Um denário, um pedaço de pão ou um pedaço de sol Tio Zaca, hoje tá quente pra dédéu Como pode ô Bartiômeu você falar do sol Se você nunca viu, se você nunca olhou pro céu? Zaca tava certo, minha vida é escuridão eterna Ele enxergava, mas puxava de uma perna Veio da Galileia, primo do Nó Cego Meus amigo aqui na Cracko, um bisnaga e um prego Uma esmolinha para um pobre cego, meus irmão Afinal de contas, cês são fi de Abraão Que fi de Abraão? Eles são fi do cão! De Saul, de Hamã, de Jezabel e Balaão Tá geral sem arame, no cavalete, ô meu Por causa do imposto que aumentou, do Zaqueu Aquele truta é sinistro, cabelin burguês O que ele tem de pequeno, tem de ruim E ocês não sabem do que aquele anão de jardim é capaz De roubar seu próprio povo, alemão, satanás Tomara que Jesus encontre o publicano Pra jogar uma maldição daquelas nele, né mano Mas Jesus não é bruxo, Ele é Salvador Ele defende o durango, mas também ama o doutor Se encontrar com Zaqueu, vai fazer proposta Dele doar o que tem, qual será a resposta Hum, eu duvido! O maluco é sovina Sempre nas quebrada, catando as propina Funcionário público, representante da gente Mas ao invés de adiantar só oprime e não sente Pena de ninguém, tem que morrer Peraí, Nó Cego, pode até se arrepender Quem mudou água em vinho pode mudar coração E quem sabe até de quebra nos devolva a visão Ó meu Deus, eu me sinto tão sozinho Na noite que nunca acaba, a beira do caminho Os mercadores passam e eu tento encontrar Tateando de quatro no escuro procurando catar As esmolas que eles lançam é o que sobra Nessa vida de blackout a correria sempre dobra Meus direitos ninguém vê, ninguém sabe, eu sei Porque em terra de cego, doido, o desrespeito é lei Sem rampa nas calçadas, sem elevador pra descer Sem Torá em braile, mas pra quê? eu nem sei ler Quero aprender, quero ser Quero que alguém me veja para que eu seja alguém Que seja alguém que não precisa ser marginalizado pela sociedade Porque o pior cego é aquele que não quer ver Seja na crackolândia, no vale do Rio Jordão Na cidade das Palmeiras ou na Avenida São João Só tinha um truta, meu único irmão Cego como eu, parceiro de profissão Dividia as agonia, as ironia, as covardia que corroía o meu dia a dia Prometi pra ele: “Nó Cego, quando o Mestre passar Vou me levantar e vou gritar seu nome até Ele me curar E vou voltar pra te buscar E se Ele me fizer ver, eu vou falar pra Ele Tem um parceiro que também precisa de você” Eu acho que Ele vem Vai pra Jerusalém, e quando Ele passar eu vou gritar Em Jericó Bartiômeu desafiou a gentalha Como Josué, no passado, rompeu as muralha Porque ele creu no Messias que nunca falha Que nunca perdeu, que nunca perde uma batalha O bicho era cego, mas ouvia bem Falar, então, nem se fala! Ói, o Mestre é vem! Bartiômeu clamou, gritou, implorou, suplicou De tanto que ele insistiu, Jesus parou Jericó, pra quem não sabe é batalha pesada Mas Bartiômeu era guerreiro que encarava qualquer parada Não deixava ele chegar a multidão Mas ele sabia que a Luz do Mundo podia iluminar sua escuridão Se Jesus passou na cracko de Jericó Pode encontrar com você onde você só Sabe onde você tá, onde se sente só Onde a cegueira do pecado chega a dar dó Jesus chamou o cego, o cara levantou Jogou a capa fora, Jesus lhe perguntou “O que é que você quer?” “Eu quero enxergar” Tocou no mano, ele viu e começou a louvar Pode tocar em você se tiver fé pra gritar Se tiver cego, perdido, sozinho, pode cantar Esta canção pro Mestre escutar E se for de coração, tio, Ele vai parar