Uma menina pequena chegou pra mim E me pediu pra dizer que palavra ela pôs no papel e nada! Uma porção de rabiscos aqui e ali ao léu e só Eu ponderei que aquilo não tinha sentido nenhum Ela falou: "não pode ser!" "Gente grande sabe ler!" "Fala o quê que é!" Logo vi que era bom eu mudar de tom Falei, então: "isso é o anoitecer" Ela disse "eu tinha certeza!" "Minha noite é a noite mais linda" "Olha a chuva de estrela que vem" "No castelo não tem luz" A artesã dos rabiscos sorriu pra mim E tudo em volta de nós revelou seu inteiro teor: Palavra Quando a palavra primeira no escuro fez a luz Foi tanta estrela dançando e riscando a lisura do céu E a menina eu vi ali Ela perguntou pra mim: "que foi?" "Pára de sonhar!" "Olha que eu consigo ler a sua mão" "Destino bom" "Vida longa pra você e eu." Fui olhando meus próprios rabiscos Onde o tempo roçou minha pele Segurando nas mãos uma ausência A palavra falava comigo Segurando nas mãos o silêncio A palavra mostrou seu avesso A palavra impossível A palavra noturna A palavra calada Quem dirá?