Kléber Albuquerque

Barriga de Fora

Kléber Albuquerque


Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Com lã no umbigo,de castigo,na soleira
Roendo unha e falando palavrão?

Ô mãe
Eu tava me esfregando com urtiga
Esmagando crânios de formiga
Com um pau de sorvete esburaquei o chão

Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Esperando a hora da senhora vir da feira
Pra mandar o medo ir lamber sabão?

Ô mãe,
Eu acho que engoli um parafuso
O mundo todo anda tão confuso
Eu queria tanto a tua mão

Mãe,
Vê se me desculpa a choradeira
Mas é que foi no melhor da brincadeira
Que a senhora me mandou crescer

Mãe,
Hoje eu já não deixo o nariz sujo
Já não coleciono caramujo
Mas ainda preciso de você

Mãe,
Por que ficaste assim a vida inteira
Cuidando pra que eu não batesse a moleira
Se era pra apanhar da vida então

Ô mãe,
Por que a gente ainda se utiliza
De limpar os sonhos nas mangas da camisa
De cortar os pés nos cacos de ilusão

Mãe,
Mandaste que eu não tomasse gelado
Me ensinaste a não ser mal educado
Me levaste à escola pela mão

Ô mãe,
Cuidaste bem da minha catapora
Hoje sou homem forte e agora
Posso seguir a minha solidão