Meu corpo sangra, senhor, tem dó E há quanto tempo eles determinam nossas vidas Vestindo azul ou vermelho, no final, somos todas inimigas? Eu não me reconheço sob o olhar Dele, nem a sua voz Nos dividir e separar é o plano do algoz Eu sei, cada um sabe bem a dor de ser o que é Mas quem é que quer sentir na pele o que passa uma mulher? Abençoado seja o fruto! Criada pra servir a qualquer custo Só reproduzir, só reproduzir E desde quando o senhor se preocupa com o que eu vou sentir? O que queres de mim, meu bom senhor? Se eu tenho um preço, mas minha profissão não tem valor E eu digo: A liberdade sempre foi palavra ausente no nosso vocabulário Mulheres de um lado, liberdade do outro, nós nunca andamos do mesmo lado E tá claro, nós, sexo frágil do lar, somos o capacho Meu corpo ao outro pertence, meu corpo é só pertence Quarto de despejo não tem espaço pra quem sente E o que sente? Que corpo treme ao deleito de outrem Mulher não tem direito a nada, só o outro tem Todos os dias um abuso, um corpo roubado E o gosto amargo de ser descartável Padrão tipo Offred, Ofglen Perde o nome, a identidade e segue a sina Reproduza, linda menina Não! Minha luta nunca será em vão As minhas não tardarão, não silenciarão e a isso eu não me presto Mostra pra eles, mulher, que estar viva por si só já é um manifesto