(Candombe)

Um cristo sem olhos claros 
É o santo do meu galpão 
Eu que não sei mais rezar
Eu que esqueci a oração

Em nome o pai e o filho
E a cruz de fé pelas mãos
Um cristo sem olhos claros 
É o santo do meu galpão 

Meu cristo sem olhos claros 
Tem cores de picumã
Um corpo feito de barro
Talvez a alma pagã
A pele igual ao sereno
Que beija a flor da manhã

Meu cristo sem olhos claros
Tem madrugadas e auroras
Escuros de noites grandes
Claro sois de campo afora
Silêncios pra ouvir os grilos
Vozes pra escutar esporas

Meu cristo sem olhos claros
Tem olhos iguais aos meus
E uma lágrima de tempo
Que pelo rosto escorreu
Igual a minha seu filho
Das benções de um mesmo Deus

Meu cristo sem olhos claros 
Sabe que não sei rezar
E mesmo assim me escuta
Quando preciso falar
Um pouco do que me lembro
Do que pedi ao sonhar

Meu cristo sem olhos claros 
Talvez soubesse a oração
Em nome o pai e do filho
Sem precisar comunhão
Talvez rezasse por mim
Na cruz de fé pelas mãos

Meu cristo sem olhos claros 
É gaúcho sim feito eu
Tem cores de picumã
Barro do chão que nasceu
É o santo, no meu galpão
Pra mim a prece de ateu