Yeah eu sou bandido É esse nome que tenho, se dissesse que não estaria a mentir Eu roubo porque não tenho como resolver a situação da minha vida Meu Pai foi um desmobilizado de guerra e valeu menos do que um chinelo Só espero a morte porque a vida não presta É assim A minha arma é o meu melhor amigo Com bala me alimento quando mato qualquer tipo de indivíduo Ainda que não for p'ra matar faço tiro Te desmonto aí no chão bem morto e só depois me retiro Manda lixo, quando me atarem já não existe Por isso mato mesmo e amanhã resolvo isso Me Drogo, não sou estranho, sou mau Parto uma role banga gosto bué do mambo speedbal Com vuzamento no escorno não me desejado a frente Se fores amigo eu vou te ver já diferente Não gosto de cocaína, é dos pulas Mas quando mato um, lhe desarmo a coca e vendo num preço bué tula Bala na câmera não presta E tiro a correr, mô n'engue, vai ter sorte se bater na testa Grande merda, se não te expliquei entenda Ouve bem, a minha porrada é esta É é txé, vem cá, vem cá, vem cá Calma aí cota Txé, cala a boca (calma aí) Dá o telefone pá (calma aí) Cala a boca, 'tá a reclamar o quê você ché 'Tá a pensar que eu sou teu pai ou teu professor -Eu sou um professor da escola pública Dou aulas a mais de quinze anos Só que em quinze anos como professor ainda passo fome O meu salário que já é pouco, ainda por cima nem me pagam Epah Isso é uma calamidade, os alunos é que pagam Eu, sei muito bem o que faço A corrupção é o esquema p'ra sair desse grande Fracasso Ouço berros dos pais dos alunos Mas o salário que é cochito, esse nem vejo nem o fumo Nove meses sem meter nada em casa Ano letivo passa, aí a miséria me arrasa Muita criança, aturar filho do outro quando os meus próprios filhos em casa só bebem água Elaborar matéria p'ra depois dormir à fome Na escola os miúdos esbanjam aquilo que o prof' não come Ninguém sente pena porque tenho as minhas pernas P'ra andar por cima das picadas deste problema Quando os filhos estão doentes 'tó lixado Ninguém Ajuda, não há escola, nem há merda do estado Me sobe a frustração e o ensino vai p'ra merda Como professor a minha atuação é esta Prestem atenção alunos Como vêm, a raiz quadrada de dezasseis é oito 'Tá a entender Sim! Vocês vão reprovar, o professor está a ver Hm, tem de ver como é que vão fazer p'ra passar O professor não é cego Eu sou cego, esta é a minha condenação Estou livre de corpo e preso na própria escuridão A minha família abandonou-me numa rua por aí Era bem tratado e comecei a mofar mesmo aí Rua fria, sentei no canto de uma parede Ouvi a voz de alguém e disse amigo tenho sede A parede era perto duma porta O meu pedido de água foi idêntico ao pedido de uma forca Pensaram que eu fosse gatuno e me estava a fazer Não falaram mais, começaram me bater Alguém que me viu antes confirmou que eu era cego Inconsciente já nem sentia os meus próprios dedos Mesmo com sangue me puseram a dormir no chão Por causa da visão, ai que maldosa humilhação Dias passaram na rua, a fome estava apertar Uns miúdos vieram e pediram p'ra me ajudar a mendigar No fim de tudo um pão com água, a me alimentar Eu aceitei por que a fome me estava arrear Não sei se sou um animal ou algo que não presta Eu até nem sei irmão, a minha realidade é esta Mano, mano só dez kwanza mesmo P'a comer um pãozinho mano Um dinheirozinho mano Nada, eu também 'tou nos pico Trabalho na lavra, também estou na miséria Aié!? És camponês? Eu sou um camponês desde miúdo, a vida não me deu outra escolha Meu pai, meus avôs, eu cresci, naquela área pelos ensinamentos que me deram, e hoje