Ela tinha ido embora dizendo que nem tudo são flores Mas num belo dia veja quem brotou no meu jardim Num sei se pela força do vento ou força de vontade A natureza tem essa mania de fazer Que cada momento repetido seja único Eu? Só registrei Quem sou eu pra mudar tais ciclos? Se bem que se eu não entregar minha água Pode calhar da chuva não cair, né chapa A gente sempre encontra um jeito De acelerar os processos, sabe? Tipo, deixar o clima mais quente Poucas roupas, corpos molhados Palavras? Só as necessárias A língua tem mil e uma utilidades pra quem sabe usar E quando se juntam, elas dançam ao som do caos Divino e profano. Poético e obsceno Por que não? Confesso que um tanto profético Rebobina a fita Brotou no meu jardim, floresceu Até que colhemos frutos Vivemos, corremos, morremos juntos Quase que nem aquele som do Belchior Seus olhos tem cor de vinho, seu olhar me embriaga O tom da sua voz me fez lembrar Que se eu não colher no tempo certo, o fruto apodrece Dito e feito São tantas nuvens que eu já nem vejo o nosso Sol Me tornei frio Aliás, reinventamos a frieza Isso que dá dançar ao som do caos Sem moderação nenhuma As vezes a saudade decide fazer um solo E aí, meu bem, lágrimas também regam Quem sabe a gente faça valer a pena? Valer o voo, valer a asa, valer o céu Quem sabe a gente se encontra na próxima estação? Mas, pô, cê disse que nem tudo são flores, né Ela tinha ido embora dizendo que nem tudo são flores Mas um belo dia veja quem brotou no meu jardim Num sei se pela força do vento ou força de vontade A natureza tem essa mania de fazer Com que cada momento repetido seja único