Atravessei mil dias em silêncio Gritei minha mudez, calei a voz Vesti a calma típica dos lentos E fui em marcha bem pouco veloz Deixei caídas flores pelo chão E recusei mil falsos brilhos, apaguei Comi com olhos, boca, pele, mão As letras, cores, sons que degustei O que senti, o que eu vi, o que vivi ainda está aqui Soprei eu mesma velas, naveguei Abri-me em fendas, solo do sertão Lancei à sorte lágrimas, reguei E verbos eu desfiz em confissão Testemunhei o fétido perfume E pus-me em retirada, desertei Beijei, ardente, a face do sublime Parti do exato porto onde cheguei O que senti, o que eu vi, o que vivi ainda está aqui De toda fenda, meu poema, meu buquê De toda escuridão, a minha luz De toda lágrima, a minha fé De todo silêncio, a paz O que eu vi, o que senti, o que vivi ainda está aqui Eu guardei pra ti