Escrevo como se quisesse sobreviver ao que me cerca Ao tempo, inclusive Arquiteto 'eus' mirabolantes Me crio e recrio em palavras Sou um desafio constante Quem me lê está cada vez mais longe de mim Não me revelo, até porque não há como expor As entranhas de quem sou Elas estão comigo Por demais intactas E daqui não se vão nem com o apagar da vida A poesia há de encontrar caminhos que não os dá escrita Ela deve ser imagem, cheiro, som, desejo, arrepio Ela precisa, para ser mesmo poesia Adentrar o misterioso campo dos sentidos, das sensações De tudo o que não pode ser traduzido em palavras Quando suas asas chegarem lá E em cada ser humano ela estiver germinando silenciosamente Não precisaremos mais de escritores e poetas Pois todos seremos os próprios poemas Quero um mundo em que não haja A precária necessidade de se traduzir sentimento Quero um mundo em que o sentimento Seja a própria tradução de tudo