Eu entrava num lugar que tinha vários X feitos de sal O grande espírito com a minha própria voz Me dizia que era proteção Ele me perguntava se eu tava disposta a pagar com a minha vida pelo mundo novo Eu olhava pra uma árvore, tocava a raiz e respondia que sim As raízes me cobriam que nem naquele filme Todas as energias transformadas em borrões Como se eu tivesse gasolina numa poça d’água Eu tava flutuando que nem eu me vi flutuando na água Quando eu tava grávida Mas dessa vez, flechas e balas tentavam me acertar Me mataram com tudo que é colonial Depois queriam que eu tirasse minha própria vida Quando eu cobrei todo preço e o peso Daquela antiga dívida, que todo mundo quer esquecer É mais fácil falar que eu morri, do que falar que eu sobrevivi a floresta morrendo A escravidão, a cidade Avançando e a favela crescendo Eu sou indígena, indígena favelada Eu não vou me conter com a migalha Eu não vou me contentar nunca com o descaso, com Fome, com a margem de um sistema que não escolhemos Que fomos impostos, invadidos Roubados Todo esse ouro, toda essa riqueza Tudo cheio de sangue, tudo construído em cima de Nossos corpos Mainha me ensinou a ouvir e me esconder E a favela me ensinou a revidar Herera kae Eu tava rezando na mata, rezando pra não ver um corpo boiando na água Eu não tava onde você tava Eu tava sendo escravizada, me perdoa Eu tava sendo escravizada Me estupraram, me perdoa Me roubaram Eu quero voltar Mainha, o problema foi tá colonizada demais Foi ter se escondido demais Eu sonhei Era tão lindo o mundo que a gente construiu junto Vamo cantar junto de novo, vamo plantar tudo de novo Lutar por aquele mundo, que a gente respira junto, que a gente existe