Se eu lhe contar você não vai acreditar E é tão incrível que nem vai compreender Fui de um milagre testemunha ocular Com esses olhos que a terra há de comer Quando compunha tudo em volta do lugar Se animara, estranhamente, por magia Como encantado me peguei a imaginar O chôro que do nada veio acontecer Para que o som tivesse a bela e calma luz Foi feito numa noite clara de luar Com a voz do vento que compus a melodia Tocava junto o cavaquinho a solar E as cordas do meu coração, de leve, pus No instrumento para me acompanhar Da sombra do arvoredo exposto à contraluz Tirei de ouvido as harmonias devagar Busquei nas águas do riacho a emoção Para molhar os olhos de quem for ouvir No pentagrama do universo a estrela-guia Unia as notas, que eram estrelas a luzir O astro-rei, que era da clave o guardião Dava-me a senha para a escuridão se abrir E logo, involuntariamente, os dedos vão Sob a luz da razão, fazendo a música fluir Rompeu-se a aurora E um cortejo de aves corta em diagonal Um céu sanguíneo com fiapos de algodão E a mata escura vira um verde matagal Junto ao lilás que se dilui na claridão Sem pressa, a vida volta ao ritmo normal E em seu lugar se aquieta a poesia Dorme o poeta, que ressona tão mortal Sonhando com a epifania de um pagão