Caboclo sangue puro Sou um caboclo sangue puro, um caipira de primeira Daqueles que espera a chuva com a semente na poeira Sempre trabalhando duro na roça a semana inteira Pegadas de sol a sol, sem ter fadiga ou canseira Depois do muito suor, seja frio ou calor, meu banho é na cachoeira As madrugadas acordo ao lado da companheira Fico escutando quietinho lá fora, a barulheira É a festa dos passarinhos na copa de uma paineira O sabiá faz seu show no galho da laranjeira Antes do sol clarear, me levanto e vou buscar minha vaquinha leiteira Lá no meu fogão de lenha, no meio da fumaceira Está de um lado na chapa, água quente na chaleira Pra tomar meu chimarrão misturado com cidreira Enquanto isso eu espero a merenda costumeira Se chegar algum amigo, convido á comer comigo biscoitos numa peneira A água do meu consumo, é filtrada na pedreira É fria por natureza, sem precisar de geladeira O transporte da família é meu carro de madeira Movido a bois ensinados pra estrada plana ou ladeira Com pouca coisa eu me arrumo, se sobrar do meu consumo Eu levo e vendo na feira Nos meus domingos de folga, pra não ficar de bobeira Vou de encontro à bicharada, na mata ou na capoeira Camuflado na tocaia, na encosta ou na ribanceira Faço uma xoca de ramos, pra me servir de trincheira Assim eu vivo a vontade, vivendo a felicidade Da minha vida campeira