Júlio Nobre

Querido Amigo

Júlio Nobre


Sinto que uma coisa me interessa
Tinto e etílico sem pressa
Vejo pela fresta
Daquela janela
A franja na testa
Da mais bela

Querido amigo quem é essa?
Existe beleza que se meça?
Caminha a magrela
Com a franja na testa
Diga se é perigo
Quem é ela?

Antes que a vida seja tarde
Ande pelo mundo, então cresça
Cresça a metade
De todo planeta
Faça que o mundo lhe mereça

Fale aquela música insana
E que a menina não lhe esqueça
Grite à vontade
Não desapareça
Faça que a vida lhe obedeça

Vejo o destino que me cerca
Traçando o papel da minha peça
E o que me resta
Olhando pela cela?
É ficar tão besta
Com a aquarela

A manhã tão cedo me atravessa
Sinto um grande medo da conversa
Seu olhar me testa
Deixando sequelas
Com a franja na testa
A mais bela

Querido amigo me perdoa
Tinha decidido pela proa
Veio um vento forte
Como ele destoa
É que eu tenho tido medo à toa

Querido amigo, não demora
Se existe perigo
Diga agora!
Olhe o rastilho
Deixado pela pólvora
Dedo no gatilho me apavora

Olhe na janela
E veja a hora
Ela que decide quando estoura
Não perca o palpite
O que faço agora?
Cheguei ao limite
Vamos embora

Querido amigo, a senhora
Ouça o que eu lhe digo
É dengosa
Deixe que eu decido
Não me cale agora
Desce o tecido, vamos embora

Querido amigo me perdoa
Bem na minha frente
Uma garoa
E passa de repente
Um tempo que ressoa
Pois, na minha mente
O tempo voa

É claro que o tempo passaria
É claro que o tempo sempre passa
O tempo da poesia
O tempo da desgraça
O tempo passaria até de graça

É claro que você não entenderia
É claro que você não entende nada
Não entende a poesia
Não entende a cachaça
Não entende que, na vida, o tempo passa

Não entende a poesia
Não entende a cachaça
Não entende que, na vida, o tempo passa

Não entende que, na vida, o tempo passa