Canudos era o cosmos, Jerusalém de taipa Comandada por conselheiro advindo dos maciéis Queria lembrar os tempos de guerra Criando um monte santo de paz Povo que saiu da seca do sertão fugir da fome e da miséria A república era o cão, pregavam contra ela Tinha se ido a monarquia, que pra eles era a salvação E as autoridades, toda imprensa do país Tinham Canudos por perigoso, um ?recanto comunista? Organizaram expedições pelo mais ínfimo estopim Estourou-se a guerra no deserto do país Um Brasil desenvolvido contra um outro Brasil miserável Mas não contavam com a força dos Hércules-Quasimodos Valentes sertanejos defendendo seu habitat Apesar de em menor número foram exemplo único em nossa história Pois canudos não recuou, não se rendeu Era a tróia de taipa, A tróia de jagunços, um contraste natural Bacamartes homicidas com as guias do rosário E contra o governo e seus exércitos uma ira ?caninana? Transformaram os sertões nas termopilas espartanas E Canudos virou mar de sangue em três expedições Mas perderam duas delas mesmo estando em maioria Um disparo de clavinote a cem tiros de comblain Mas perderam pro deserto e pro sol O inimigo também era natural Aí veio a coluna Savaget com a sua matadeira Se vingar pelos pelotões de Febrônio e Moreira César E canudos caiu de vez Suas casas, suas igrejas, suas vidas Seus defensores, o temível pajeú Morreu conselheiro com seus discípulos Mas até o final não recuou, não se rendeu Até o último suspiro numa cova rasa Dois homens, um velho e um menino resistiam expugnados E na sua frente, cinco mil soldados armados até os dentes E dizimaram para confirmar o que disse Euclides Que Canudos não foi uma campanha foi um crime Brasileiros contra brasileiros, não havia inimigos Só a república que nascia massacrando os seus filhos E Canudos é um hiato, um parêntese em nossa história Pois morreram pelo crime de viver em comunhão Não houve glória alguma pros manipansos de farda E Canudos será lembrada como a Esparta do sertão Pois até o final não recuou, não se rendeu.