Julinho Gomes

No Mato Não Mato

Julinho Gomes


o cheiro da caça
da pesca
da fruta
da gente
da mata queimada

me faz suspirar o alvoroço
que acaba sem gosto
e o dia se acaba

eu que não quero sofrer
que não paguei pra viver
e agora vejo a gritaria
a fome a grana não sacia

pra tudo se briga
se foge não mata
se mata não morre
se morre é lenda

no mato não mato
por fome eu caço
mas pela minha terra
eu faço a guerra

chora o tempo passado 
caminha pro nada
se some na trilha

o mato que cobre
a terra do homem
que vive na selva sem nada

caboclo que tem que correr
do chumbo que vem derreter
a vida que se fez no mato
e se ficar vira pedaço

pra tudo se briga
se foge não mata
se mata não morre
se morre é lenda

no mato não mato
por fome eu caço
mas pela minha terra
eu faço a guerra

chão contestado
da cruz da espada
da fé que alimenta
uma raça

que vive solta
mas sabe o limite
da vida que cerca
de paz

veja aqui mister farquar
não saio daqui sem lutar
se seu trilho já não basta
traga sua tropa faça

a guerra no mato
orgulho eu desfaço
se fujo é pra achar
lugar para lutar

pra tudo se briga
se foge não mata
se mata não morre
se morre é lenda

o sangue que jorra
no barro da luta
batalha na raça
por léguas 

tudo ou nada
me gasto da vida
sou filho da selva
meu deus é fiel

gringo que vem de avião
e a gente luta de facão
mas quem cair na minha terra
não sai daqui sem ter a guerra

A história lhe conta
derrota do contra
mas quem perde a guerra
é quem luta por nada

eu tenho a razão
aqui é meu chão
e quem vem de fora
pra guerra que morra

pra tudo se briga
se foge não mata
se mata não morre
se morre é lenda