Fui seguindo pra sempre na subida Já andei vinte léguas contra o vento, Uma quadra sem porta e sem alento. Nessa estrada só tem lugar de ida. Cada curva parece conhecida, Cada passo descreve a própria lei, Nesse chão que a saudade derramei, Tanta dor, tanto pranto, tanto gozo, Me estiquei de um jeito preguiçoso Na primeira cadeira que encontrei… Fui ao fundo de todo pensamento E segui sem intento e sem guarita No deserto onde só o tempo habita, Eu ouvi murmurinhos pelo vento. Vi as nuvens girando em movimento. Aprendi a metade do que eu sei. Até mesmo a mentira que inventei Me sorriu de um modo milagroso. Me estiquei de um jeito preguiçoso Na primeira cadeira que encontrei… Percorri com igual velocidade Sobre ruas e vales e sarjetas, Revirei o que havia nas gavetas, Quis apenas a lei da gravidade. Aprendi no caminho da verdade Uma coisa que nunca esquecerei Me achei, me perdi, me deparei Tão diverso e tão maravilhoso. Me estiquei de um jeito preguiçoso Na primeira cadeira que encontrei… Ao final mais cansado e mais sereno, Com os olhos repletos de visagens, Tantas chuvas e tantas estiagens, Da janela do trem, fiz um aceno. E pensei como o mundo é tão pequeno, Mas, também é maior do que sonhei, Fui dormir inocente e despertei Tão criança, tão jovem, tão idoso, Me estiquei de um jeito preguiçoso Na primeira cadeira que encontrei…