Depois que a manhã se desdobra, Pra chover, Vem tanta nuvem da serra pra cá, Onde o vento se joga Então, já depois de amanhã, Talvez, Seja tarde demais pra chegar Mas se der, Não demora… Eu, no domingo que vem vou lá Nem que seja bem tarde, Mesmo sendo madrugada até, Vale á pena se deitar No leito do rio e deixar se levar Depois esquecer do caminho de casa, Pra jogar toda tarde fora, Sem ter hora pra retornar, Sem ter hoje nem ter amanhã, Pra chorar, pra sorrir, Pra dormir, pra sonhar, Pra chegar, pra sair, Pra se perder no silêncio do olhar. Lá onde o tempo se escora, É que a tarde namora, É que o vento se enrosca pra depois soltar, Lá no alto mais alto que há, Onde quase não dá pra chegar, Onde a folha se larga E desliza na brisa de leve E vai caindo sem vertigem Como luva na paisagem, Lentamente Num redemoinho feito um carrossel, Do chão pro céu, Do céu pro chão Do chão pro céu de madrugada, Numa calma disparada Onde tudo quer passar Tranqüilo sem correr sequer perigo qualquer, A qualquer hora Lá, vou dizer: Eu encontrei a paz E por isso, aonde quer que vá, Deixo a brisa me guiar, se for A mesma brisa Aquela mesma Que soprava Serra dentro Vendo a paisagem deslizar Sem pressa, Sem pressa, Na sombra, Saudade sincera Enquanto a vida se derrama no ar Num domingo qualquer dessas estelares semanas A mansidão é tanta Que assimila a planta e se recria em dia e noite só, Em noite e dia que amanheceria Sempre e novamente em cada pomar E depois de cada manhã sopraria a brisa de lá Pra trazer outra sombra, outra luz, outra serra pra cá