No meu exílio de campo, perdido pelas lonjuras, Escuto a voz do silêncio, quando, no vento ele canta... Eu canto junto com ele pra destilar a amargura Da lágrima que carrego guardada em minha garganta! Ela se mostra em meu canto porque, saudosa, recorda Um tempo que foi ficando junto às carretas e aos bois... Lembra das tropas de antanho que pelo peso da engorda Iam tão lerdas na estrada sem nem saber do depois! (Lágrima que é sentimento, rio que transborda do leito, Chama que nunca adormece e pelo pago se encanta... Muitos a trazem nos olhos, outros a levam no peito, Eu tenho a lágrima viva pulsando em minha garganta!) Lágrima de alma gaúcha, retemperada aos rigores, Chuvas e sóis que, com o tempo, vão se timbrando na gente... Vai essa vida andarilha perdida nos corredores, E a lágrima na garganta, que nunca seca a vertente! Meu canto é feito de lua, de cantilena de espora, Da luz da estrela boieira, que pelo céu se levanta... Porque essa lágrima velha que nunca mais se evapora Feita de sal e poesia, já me nasceu na garganta! (Lágrima que é sentimento, rio que transborda do leito, Chama que nunca adormece e pelo pago se encanta... Muitos a trazem nos olhos, outros a levam no peito, Eu tenho a lágrima viva pulsando em minha garganta!)