Um dia eu sonhei que eu era um cacto Desses que tenho em casa e eu não cuido E que mesmo sem cor, sem água Sem ter flor pra dar Com os espinhos tortos 'inda olha rindo Vivo intacto Vivo intacto O cacto Menina, o sonho eu acho que era um cacto De um interior envelhecido Que fugira do sertão na tentativa De colher futuro farto e voz ativa Vivo intacto Vivo intacto O cacto Olha eu em Sp, na portaria Da brecha eu te mando um bom dia O senhor bate os seus pés, sobe a fumaça Tragando o mundo eu sigo, e você passa Agora eu viajei, eu era um cacto Desses na cidade grande, esquecidos Chique, chique, pobre, pobre Lado a lado Que rachando a terra abre mais caminho Amordace os dentes, sou eu o cacto Cortando a raiz, sou mais de um país e um estado desistente É fama pra dizer que a gente aguenta (vivo intacto) Que manda chumbo grosso e nós sustenta (vivo intacto) Botaram pra vender nossa esperança (vivo intacto) Criaram o roteiro dessa dança (vivo intacto) Lugar hostil de gente tão pacífica Nordeste ficção científica É pobre, é seca, é criança raquítica Nordeste invenção política Hei, herêrêrêrêrêrê, harêrêra Nordeste emoção artística Hei, herêrêrêrêrarê, herêrêra Nordeste ficção científica Nordeste invenção política Nordeste ficção científica