Julia Bosco

Rosa Púrpura de Cubatão

Julia Bosco


Ó, minha amargura, minha lágrima futura
Vai morrer a criatura que lhe amar
Dona do universo, pobre rima do meu verso
Tudo que eu quiser lhe peço sem ganhar
Minha noite escura, meu barulho de fritura
Minha rosa púrpura de cubatão
Ó, primeira dama, o retrato de quem ama
É a cama, o lençol e o cobertor
Musa em que me inspiro e por isso mesmo viro
Alvo fácil pro seu tiro, charlatã
Chama em que me queimo
Confissão de amor que teimo em evitar... Qual maçã
Conto-do-vigário, ilusão de operário
Hora extra de trabalho em construção civil
Ligação direta pra roubar minha bicicleta
A completa dedo-duro do patrão mais vil
Santa mentirosa, a mentira mais gostosa
Eu caí em sua prosa sem sentir
Mas se Deus é justo, você vai levar um susto
Quando for saber o custo de mentir
Fruta no caroço, overdose no pescoço
Acidente nuclear de chernobyl
Grampo de escuta, dose dupla de cicuta
Você quer de mim somente amor servil
Tão bela menina que não passa da mais fina
E nebulosa filha desse miserê
Eu, de minha parte, já peguei meu estandarte
E vou sambar sem você