Joyce Albuquerque

Exilado do Mundo

Joyce Albuquerque


Ninguém me enxerga
Aqui embaixo no porão
Eu dou bom dia
E não ganho nenhuma migáia de pão

Me negam o peixe
Pra que eu tenha que pescar
Mas não tenho anzol
E na lagoa farta não me deixam entrar

Ah! Ahh! Ahh! Ahh!
Eu subo e os homi de cima
Ma manda vortá

Sei que não me querem
Com essa tal de educação
Pra obrigar meus fio
A ter um fuzil
E andar de pé no chão

Mas que o sinhô saiba
Que ela mesmo que tardia
Chegou como esperança
E faz nós lutar pela democracia

Ah! Ahh! Ahh! Ahh!
Eu luto e os homi de cima
Me obriga a parar

E pra quê cultura
Se a pobreza quer comida?
Mas dão nosso dinheiro
Prum monte de gente de alma falida

Sou um exilado
De um mundo farto da corrupção
E ainda exaltam
Quem tenta cortar nossas três refeição

Ah! Ahh! Ahh! Ahh!
Eu voto e os homi
De cima consegue anular

Sou um cidadão
Como qualquer outro
Não quero ser de bem
Pois são esses os mesmos
Que fazem de mim
Seu pobre refém

Não peço mais nada
Já que a crise é braba
E a culpada saiu
Esse é o último grito
De um mísero aflito
Que com a justiça caiu