Era um sonho dantesco o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho Em sangue a se banhar, no estalar do açoite Legiões de homens negros como a noite Horrendos a dançar, a entoar escravizado Já há tempo o seu canto triste, seu corpo é preso Mas sua canção é livre Então voe e conte ao mundo o terror da escravidão E encontre quem retire as correntes de suas mãos Como se o mundo não soubesse o holocausto em que viviam Subjugados, maltratados, açoitados a luz do dia Vendidos como mercadoria descartável Trazidos da África e por aqui jogados Rebelados foram muitos os que lutaram por outro sonho Refugiados e escondidos em quilombos Caçados e abatidos como animais na mata Capturados, flagelados e jogados nas senzalas Ei Zumbi, seu sonho de liberdade continua vivo Em cada verso, em cada rima, em cada ritmo Sua luta por justiça não ficou só em palmares Seu grito de liberdade vai entoar pela eternidade Século XXI e o negro ainda resiste A escravidão da mente infelizmente ainda persiste E insiste em julgar aos seus pela cor da pele O preconceito ainda existe que pena isso nos revele Que a escravidão ainda perpetua em nossos dias Principalmente mano nas periferias Reflexo de uma abolição que libertou o corpo Mas manteve a mente presa condenada ao calabouço Lei Áurea o negro é livre, porém continua escravo Sem formação, sem moradia, sem respeito, sem trabalho Das senzalas pros quilombos, dos quilombos pras favelas Das favelas para os centros, dos centros para as celas E nas celas, o negro ainda entoa o seu canto triste Seu corpo é preso, mas sua alma é livre Então voe e vá em busca da sonhada liberdade E um dia retorne na sua totalidade Ei Zumbi, seu sonho de liberdade continua vivo Em cada verso, em cada rima, em cada ritmo Sua luta por justiça não ficou só em palmares Seu grito de liberdade vai entoar pela eternidade Oh, canto triste de outrora, atravesse as grades E traga pra esse povo a liberdade Traga o respeito esquecido nos porões da história Que a luta desse povo não fique só na memória Que se acenda a chama viva do amor no coração Do respeito, da igualdade e da compreensão Que todos possam ser tratados da mesma forma Na igreja, no trabalho, no mercado, na escola Que o país que nós vivemos possa ser um berço de cultura E que não reste nenhum homem na rua Seja branco ou seja negro o nosso apelo é o mesmo Porque afinal todo homem quer no fundo é respeito Nossos heróis não viraram estátuas não Meu senhor, pelo contrário, lutaram contra quem virou E achava que tinha a propriedade sobre a vida E que hoje dá nome a praças e avenidas Zumbi continua vivo, em cada coração ferido Em cada vida interrompida, em cada pedreiro Amarildo Em cada porta fechada, em cada cabo da enxada Em cada sonho interrompido, em cada lágrima derramada Ei Zumbi, seu sonho de liberdade continua vivo Em cada verso, em cada rima, em cada ritmo Sua luta por justiça não ficou só em palmares Seu grito de liberdade vai entoar pela eternidade