Um cabra de Lampião De nome Pilão Deitado Que morreu numa trincheira Num certo tempo passado Agora pelo sertão Anda correndo visão Fazendo mal-assombrado E foi quem trouxe a notícia Que viu Lampião chegar O inferno nesse dia Faltou pouco pra virar Incendiou-se o mercado Morreu tanto cão queimado Que faz gosto inté contar Morreram cem negro velho Que não trabalhavam mais Três netos de Parafuso E um cão chamado Cá-traz Morreu também Bigodeira E um cão chamado Buteira Cunhado de Satanás Vamos tratar da chegada Quando lampião bateu Um moleque ainda moço No portão apareceu Quem é você, cavalheiro? Moleque, eu sou cangaceiro Lampião lhe respondeu Moleque, não! Sou vigia E não sou seu pairceiro Hoje aqui o senhor não entra Sem dixé quem é primeiro Moleque, abra o portão Saiba que sou Lampião O assombro do mundo inteiro Então esse vigia Que trabalha no portão Dá pisa que voa cinza Sem fazer distinção O cabra escreveu não leu A macaiba comeu Ali não se faz perdão O vigia foi e disse Fique fora que eu entro E eu vou falar com o chefe No gabinete do centro Por certo ele não lhe quer Mas conforme eu lhe disser Eu levo o senhor pra dentro Lampião disse: Vá logo Quem conversa perde hora Vá depressa e volte logo E eu quero pouca demora Se não me derem ingresso Eu viro tudo aos avesso Taco fogo e vou embora O vigia foi e disse A satanás no salão Saiba, vossa senhoria Aí chegou Lampião Dizendo que quer entrar E eu vim lhe perguntar Se lhe dou o ingresso ou não Não senhor, satanás disse Diga a ele que vá simbora Só me chega gente ruim Eu ando muito caipora Eu já to inté com vontade De botar mais da metade Dos que têm aqui pra fora Não senhor satanás disse Vá dizer que vá embora Só me chega gente ruim Eu ando meio caipora Eu já estou com vontade De botar mais da metade Dos que têm aqui pra fora Disse o vigia Patrão A coisa vai piorar E eu sei que ele se dana Quando não puder entrar Satanás disse isso é nada Reúna aí a negrada E leve o que precisar Quando Lampião deu fé Da tropa negra encostada Disse só na Abissínia Ô tropa preta danada E uma voz que ecoou Satanás foi quem mandou Taca-lhe fogo negrada Lampião pôde pegar Uma caveira de boi Sapecou na testa dum E o cabra só fez dizer oi Houve grande prejuízo No inferno nesse dia Queimou-se vinte mil conto Que Satanás possuía Queimou-se o livro do pont Perderam seiscentos contos Somente em mercadoria Reclamava Lucifer Crise maior não precisa Os anos ruim de safra E agora mais esta pisa Se não houver bom inverno Aqui dentro dos inferno Ninguém compra uma camisa Quem duvidar desta historia Pensar que não foi assim Duvidando de meu verso Não acreditando em mim Vá comprar papel moderno E escreva para os inferno Mande saber de Caim