Venho da terra assombrada do ventre de minha mãe não pretendo roubar nada nem fazer mal a ninguém Só quero o que me é devido por me trazerem aqui que eu nem sequer fui ouvido no acto de que nasci Trago boca pra comer e olhos pra desejar tenho pressa de viver que a vida é água a correr Venho do fundo do tempo não tenho tempo a perder minha barca aparelhada solta o pano rumo ao norte meu desejo é passaporte para a fronteira fechada Não há ventos que não prestem nem marés que não convenham nem forças que me molestem correntes que me detenham Quero eu e a natureza que a natureza sou eu e as forças da natureza nunca ninguém as venceu Com licença com licença que a barca se fez ao mar não há poder que me vença mesmo morto hei-de passar com licença com licença com rumo à estrela polar