José Fortuna

Do Que Boiadeiro Gosta

José Fortuna


Do que o boiadeiro gosta em sua longa jornada
É sentir poeira no rosto, o pó de arroz da estrada
Sentir cheiro de gado, que traz o vento da tarde
Qual o perfume mais caro dos ricaços da cidade

Do que o boiadeiro gosta é um som sentimental
Do berrante que virou instrumento musical
Em muitos discos que ouve no final de uma canção
O berrante repicando como um grito no sertão

Do que o boiadeiro gosta é dormir sobre o baixeiro
Tendo o céu por cobertor e o capim por travesseiro
No grande quarto da noite a grama verde é colchão
No telhado do infinito o luar é seu lampião

Do que o boiadeiro gosta é nas tardes de mormaço
Fazer um boi pantaneiro rolar na ponta do laço
Do que o boiadeiro gosta é ouvir pelas pousadas
Os peões contando casos de estouros de boiadas

Do que o boiadeiro gosta é ver a branca neblina
Que se forma nas baixadas e sobe pelas colinas
Aonde a boiada dorme dos espigões às encostas
Gostoso é também gostar do que o boiadeiro gosta