Vejam minhas mãos, pequenas mãos Com dez dedos diferentes E saber que elas podem Mudar a vida da gente As vezes fico pensando Quanto as mãos podem fazer Umas servem para dar E outras pra receber Mãos que ferem, mãos que matam Mãos que sabem dar perdão Mãos que acusam e condenam Inocentes à prisão Mãos ternas que entregam flores A quem tanto a gente ama Mãos cruéis que atiram pedras Sobre a honra atiram lama As mesmas mãos que são feitas Para um velhinho amparar Podem fechar-se avarentas E uma esmola negar Mãos de mãe que com ternura Faz seu filhinho ninar E depois com doce afeto Seu rosto acariciar Mãos cruzadas a rezar Ajoelhada aos pés de Deus Mãos que acenam despedindo-se Num triste e sentido adeus Mãos que escrevem uma mensagem A quem se encontra distante Mãos que constroem, mãos que erguem A nossa pátria gigante Mãos de pai que acaricia O filho ao chegar da escola Mãos que roubam, mãos que matam Mãos que sabem dar esmolas Mãos, mãos loucas que erguem copos De cachaça em profusão Mãos que com o álcool transportam Loucura e alucinação Mãos que enchugam o pranto ardente Que cai numa despedida Mãos enrugadas e frias da vovozinha querida Mãos de criança segurando De uma cela as grades frias Vendo seu pai prisioneiro Sem ver mais a luz do dia Mãos de nenezinho erguidas Para a mãezinha amparar Quando ainda em seu bercinho Levanta querendo andar Mãos que tudo faz e desfaz Que tantos mistérios tem Peço a Deus que minhas mãos Possam só fazer o bem Só fico triste em saber Que um dia elas vão fechar Os olhos de minha mãe Quando esta vida deixar Foram das mãos que brotaram Um dia pregado à cruz O sangue santo jorrando Das duas mãos de Jesus