Ao cair da tarde aquela menina Espera na esquina um carro parar Bem pode ser ela até nossa filha Que vem maltrapilha o vidro limpar Com a gorja ela pensa matar sua fome Não sabe seu nome, parentes não tem Talvez de um amor é sobra esquecida Por pais que na vida a esqueceram também Pelo parabrisa eu vejo a menina Sozinha na esquina com um trapo na mão Também ela é trapo nas mãos da pobreza Que após a limpeza jogaram no chão Todos vão embora para se encontrar Com o filho no lar, alegre e sadio Ninguém mais se lembra que entre a neblina Ficou a menina, tremendo de frio Talvez ela seja o pó de um pecado No chão arrastado por vento veloz O papai que tanto a pobre deseja Pode ser que seja qualquer um de nós