José Afonso

Viva o Poder Popular

José Afonso


Não há velório nem morto 
Nem círios para queimar 
Quando isto der prò torto 
Não te ponhas a cavar 

Quando isto der prò torto 
Lembra-te cá do colega 
Não tenhas medo da morte 
Que daqui ninguém arreda 

Se a CAP é filha do facho 
E o facho é filho da mãe 
O MAP é filho do Portas 
Do Barreto e mais alguém 

Às aranhas anda o rico 
Transformado em democrata 
Às aranhas anda o pobre 
Sem saber quem o maltrata 

Às aranhas te vi hoje 
Soldado, na casamata 
Militares colonialistas 
Entram já na tua casa 

Vinho velho vinho novo 
Tudo a terra pode dar 
Dêm as pipas ao povo 
Só ele as sabe guardar 

Vem cá abaixo ó Aleixo 
Vem partir o fundo ao tacho 
Quanto mais lhe vejo o fundo 
Mais pluralista o acho 

Os barões da vida boa 
Vão de manobra em manobra 
Visitar as capelinhas 
Vender pomada da cobra 

A palavra socialismo 
Como está hoje mudada 
De colarinho a Texas 
Sempre muito aperaltada 

Sempre muito aperaltada 
Fazendo o V da vitória 
Para enganar o proleta 
Hás-de vir comigo a glória 

O Willy Brandt é macaco 
O Giscard é macacão 
O capital parte o coco 
Só não ri a emigração 

De caciques e de bufos 
Mandei fazer um sacrário 
Para por no travesseiro 
Dum cura reaccionário 

Não sei quem seja de acordo 
Como vamos terminar 
Vinho velho vinho novo 
Viva o Poder Popular