José Afonso

O Homem Voltou

José Afonso


O homem voltou ao solar do amigo 
O homem queimou um cigarro na testa 
O homem voltou calculando o destino 
Andou mais um passo e não viu 

Matava ele o tempo numa outra azinhaga 
E a voz era fraca ninguém o ouvia 
A larva estendia e o sol abrasava 
A marcha do tempo parou 

Havia uma vala na rua comprida 
E a porta travava ninguém o espera 
O homem cavava uma cova na vida 
Ali nem o céu se calou 

Trazia uma ruga na cara comprida 
Não vinha pra nada não vinha por nada? 
E a rua era larga e a rua era fria 
Andou mais um passo e tombou 

Havia uma hora que havia uma vida 
Que o homem andava que o homem corria 
E a porta travava e um tiro partia 
A marcha do tempo parou 

O homem voltou ao solar do amigo 
E a casa era escura e a porta batia 
O homem queimou um cigarro na testa 
Andou mais um passo e tombou 

Na volta era a noite 
Chupava-se a vida 
Que há tempo e medida 
Chupava-se a vida 
O homem precisa é dum´outra cantiga 
Agora que o frio voltou