Jorge Vercillo

Silêncio Na Favela

Jorge Vercillo


O silêncio na favela
É a incerteza no estampido de um tiro
O silêncio na favela
É a mãe gritando sobre o corpo de um filho
O silêncio na favela
É quando a lua invade a sala sem pedir
E a gente na janela
Pensando que estamos sozinhos por aqui

O silêncio na favela é o descanso de uma gente
Que levanta com o primeiro cantar do galo
É quem leva esse país pra frente

O silêncio na favela é o breque da mangueira
É o salgueiro na avenida que levantou
É velha-guarda da portela

O silêncio na favela é a falta bem cobrada
É a bola que navega
É o silêncio que explode em grito de gol, gol, gol, gol

O silêncio na favela é a milícia extorquindo o morador
É a chuva que soterra
É a indiferença, a intolerância e o seu terror

O silêncio na favela
Também é a pausa que antecede o tamborim
O menino na janela
Entre as cortinas, vendo a moça se despir

Fim de baile pra galera, pelourinho e dona marta
Ver a dança do menino michael
Bem na porta da sua casa

Bob marley e che guevara
Tienes hermanos de argentina
Tem vascão o time da virada
Na camisa da menina

Tem estrela na cabeça
Com fogão erguendo a taça
Lá também tem mulambada do tricolor
Tem timão, ba-vi, gre-nal, galo

Mas o silêncio na favela é a resposta rubro-negro
Com a bola que navega
É o silêncio que explode em grito de gol, gol, gol, gol

O silêncio na favela
É quando a lua invade a sala sem pedir
E a gente na janela
Pensando que estamos sozinhos por aqui

O menino na janela
Entre as cortinas, vendo a moça se despir
O silêncio na favela
É muito mais do que eu consigo resumir